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Depressão

por Coordenação publicado 22/06/2019 19h16, última modificação 27/09/2023 09h08

 

A depressão tem alto impacto na vida do paciente e de seus familiares, com significativo comprometimento nos aspectos sociais, ocupacionais e em outras áreas de funcionamento. Alguns sintomas comuns são: humor deprimido, redução do interesse ou prazer em todas ou quase todas as atividades, perda ou ganho de peso, insônia ou hipersonia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou perda de energia, sentimentos de desvalia ou culpa inapropriados, redução da concentração e idéias de morte ou de suicídio. Para o diagnóstico, é necessário que os sintomas durem pelo menos duas semanas e um deles seja, obrigatoriamente, humor deprimido ou perda de interesse ou prazer.

O transtorno depressivo maior já é considerado uma das principais doenças incapacitantes do mundo, afetando aproximadamente 350 milhões de pessoas. No Brasil, segundo pesquisa populacional, 7,6% (IC 95% CI 7.2-8.1) dos respondentes afirmaram ter diagnóstico prévio de depressão realizado por médico ou profissional de saúde, representando um total de 11.179 adultos.

A teoria que marcou a era moderna da psicofarmacologia na psiquiatria foi a teoria conhecida como “monoaminas da depressão”, que caracteriza a depressão como uma diminuição dos níveis de monoaminas disponíveis ao Sistema Nervoso Central (SNC), como a dopamina, noradrenalina e a serotonina.  Esta teoria permaneceu como a mais aceita por décadas, sendo elaborados medicamentos baseados na maior disponibilização dessas monoaminas ao SNC. Baseando-se nisso é que foram criados os Inibidores da Monoaminoxidase (IMAO), representados pela tranilcipromina e moclobemida; e os Antidepressivos Tricíclicos (ACTs), representados pela amitriptilia e imipramina, sendo que o primeiro atua na inibição da oxidação de monoaminas e o segundo atuando através da inibição dos transportadores que recaptam as monoaminas, aumentando sua concentração nas fendas sinápticas. Essas classes de fármacos já existem há mais de 60 anos e o uso destes vêm diminuindo com a descoberta de novos fármacos.

Com o passar do tempo surgiram outros de mecanismos mais especificos e efeitos adversos reduzidos, atuando em sua grande maioria na inibição da recaptação das monoaminas, a exemplo dos Inibidores da Recaptação Seletiva da Serotonina (ISRS), como a fluoxetina e sertralina e os Inibidores Seletivos da Recaptação de Serotonina e Noradrenalina (ISRSNs) como a duloxetina e venlafaxina;  que têm como principal avanço sua seletividade em relação ao neurotransmissor recaptado. Isto reduz os efeitos adversos, que passaram a ser um obstáculo ao uso dos ACTs, frente a ação em outros receptores de aminas biogênicas (histamina, dopamina acetilcolina), provocando casos de sedação, hipotensão ortostática, prejuízo cognitivo, sedação e boca seca. Os IMAOs também apresentavam uma série de efeitos indesejados e potencialmente perigosos como crises hipertensivas e síndrome serotoninérgica, acarretando uma baixa adesão a estas duas classes de fármacos. Os inibidores de recaptação seletivos, apesar do perfil de segurança melhor, também possuem efeitos adversos comuns (menos nocivos à saude), como impotência sexual, perda de libido, náusea, perda de apetite, cafaleia e insônia.

Passado décadas, esta teoria recebeu diversas adaptações. A mais nova teoria em questão é a de que em vez de derivar de defeitos primários na sinalização de monoaminas, a depressão pode resultar de experiências de vida estressantes que causam danos neuronais substanciais e consequentes defeitos no processamento cerebral. Portanto, por mais que as monoaminas continuem tendo seu efeito fisiopatológico na depressão, as causas de origem passam a ser de domínio comportamental, exigindo, dessa forma, não somente a farmacoterapia, como também tratamentos psicoterapêuticos.

Atualmente, vê-se duas associações principais que tratam da informatização de problemas neuropsiquicos, a Associação Americana de Psiquiatria (APA), que promove o avanço, a comunicção e a aplicação da ciência psicológica, e o Instituto Nacional de Excelência em Saúde e Cuidados (NICE), que se trata de um instituto do Reino Unido que fornece informações terapêuticas e patologicas baseadas em evidências aos agentes de saúde. Ambas organizações  recomendam a psicoterapia como uma opção inicial e indispensável no tratamento de transtornos depressivos. Tratamentos alternativos como a yoga, acupuntura, musicoterapia, exercício físico, meditação, controle da respiração, uso de fitoterápicos também estão associados a melhora dos quadros de depressão, justamente por auxiliar na redução do estresse emocional.

Até o momento, os estudos deixam claro o tratamento farmacológico como o principal tratamento para episódios atuais de transtornos depressivos, contudo sem evidências suficientes de sua capacidade em proteger o paciente contra recaídas ou reincidências. A proposta das psicoterapias (terapia cognitiva-comportamental, mindfullness, behavioral activation,etc) é justamente esta: buscar uma melhora substancial a longo prazo. Ensaios clínicos demonstram que a combinação de antidepressivos com psicoterapia aumenta a eficácia do tratamento da depressão leve e moderada. Diversas metanálises e estudos de revisão já foram publicados, levando a mesma conclusão.

A relação entre estresse emocional e quadros depressivos ainda é explicada hormonalmente, a exemplo da secreção de glicocorticóides após estimulação do córtex da glândula suprarrenal pela ACT, ocorrendo uma adaptação ao stress agudo. É visto em metade dos quadros, uma hiperatividade do eixo HPA, resultando em uma hipercortisolémia (e hipercortisolúria), que é também característica do stress crônico ou agudo grave, além das patologias endócrinas cujos doentes estão epidemiologicamente em risco aumentado de depressão.

É evidente, dessa forma, que por mais que se tenha havido um avanço na descoberta de novos medicamentos que atuam como antidepressivos, estes, ainda assim, atuam revertendo a sintomatologia da doença, não tendo ação na origem do problema que se encontra em viés comportamental. Portanto, um tratamento efetivo pode ser obtido através da combinação da farmacoterapia e psicoterapia, melhorando assim a aptidão do paciente para que realize suas atividades e ainda trabalhe questões psicológicas referentes ao problema em si, sempre objetivando ao controle da doença, estabilidade do paciente e uma melhor qualidade de vida.

 

 

Referências:

Carneiro, AM; Dobson KS. Tratamento cognitivo-comportamental para depressão maior: uma revisão narrativa. Rev. bras.ter. cogn.,  Rio de Janeiro ,  v. 12, n. 1, p. 42-49, jun.  2016 .

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Monoamine Theories of Depression: Historical Impact on Biomedical Research. Pages 366-392 -  Journal of the History of the Neurosciences – 2012.

Neurobiologia da Depressão. 2010. 24f. Dissertação de mestrado – Faculdade de Medicina: Universidade do Porto, Porto, 2010. 

Stopa, S. R., Malta, D. C., Oliveira, M. M., Lopes, C. S., Menezes, P. R., & Kinoshita, R. T. (2015). Prevalence of self-reported depression in Brazil: 2013 National Health Survey results. Revista Brasileira deEpidemiologia, 18(2),170-180.

World Health Organization (WHO). (2016). Fact sheet depression. Recuperado de: http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs369/en/.

 

Texto elaborado pelos acadêmicos: Anne Portela, Alexya Cavalcanti, Nataniel Marques e João Marcos Araújo.