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Doenças Endêmicas

por Coordenação publicado 05/09/2019 00h00, última modificação 27/09/2023 09h08

O termo doença endêmica ou endemia é utilizado para definir qualquer doença localizada ou com uma grande incidência em um espaço limitado denominado de “faixa endêmica”, seja esse um estado ou um país.

Essas enfermidades foram o foco da saúde pública brasileira por quase um século até que com a chegada da urbanização, da ampla disponibilidade de água encanada, melhores condições de saneamento e o desenvolvimento de diversas políticas e estratégias de controle, observou-se uma diminuição considerável na incidência dessas complicações.  No Brasil costumam ocorrer em áreas rurais ou urbanas com problemas de saneamento básico. A maioria dessas doenças é de ordem parasitária ou são transmitidas por vetores (organismos que servem de veículo para a transmissão de doenças, ex: mosquitos, moluscos). Os principais exemplos são esquistossomose, leishmaniose, leptospirose e hanseníase.

A esquistossomose, ou barriga d’água como é popularmente conhecida, se qualifica como uma verminose parasitária desencadeada pela infecção do agente etiológico Schistosoma mansoni, que dispõe como vetor o caramujo em água doce, posteriormente contaminada. As manifestações clínicas surgem após o alojamento do verme nas veias do mesentério e do fígado, sendo estas identificadas com sintomas agudos como: febre, cefaleia, fraqueza, tosse e diarreia, sendo este último agravado na forma crônica.

Figura 1 - Ovo do parasita Schistosoma mansoni evidenciados nas fezes dos indivíduos acometidos pela esquistossomose

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Fonte: http://scan.myspecies.info/file-colorboxed/647

Como tratamento de primeira linha é prescrito o Praziquantel, administrado via oral em dose única de 50mg/kg para adultos e 60mg/kg para uso pediátrico, sob a forma de comprimidos de 600mg. Como segunda escolha de tratamento, quando necessário, é prescrito Oxamniquina, também administrada via oral em adultos numa dose única de 15mg/kg e em crianças a 20mg/kg, receitada na forma de cápsulas de 250mg.

A Leishmaniose é uma doença infecciosa e não contagiosa, provocada por parasitas do gênero Leishmania tem como fonte de transmissão principal os animais silvestres e insetos infectados com o parasita, podendo o hospedeiro ser o cão doméstico. Esses parasitas atacam o sistema imunológico, existindo dois tipos: a leishmaniose tegumentar ou cutânea e a leishmaniose visceral ou calazar. A primeira, é caracterizada por feridas na pele com frequência nas partes descobertas do corpo, podendo, mais tarde, aparecer feridas na boca, garganta e boca, sendo caracterizada por “ferida brava”. Já a visceral ou calazar é uma doença sistêmica pois atinge órgãos internos, principalmente o baço, fígado e a medula óssea.

Figura 2 - Ferida característica de leishmaniose cutânea em portador da doença

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Fonte: https://camocimimparcial.blogspot.com/2013/01/picada-de-mosca-tambem-causa-doenca.html

Figura 3 - Paciente acometido por leishmaniose visceral

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Fonte: http://www.medicinapratica.com.br/2010/12/23/saude-medicina-pratica/calazar-leishmaniose-visceral-quais-os-sintomas/

A prevenção dessas doenças compreende a não construção de casas próximas à mata, utilizar repelentes e usar telas protetoras em janelas e portas.

O tratamento da doença disponível no SUS é principalmente com o fármaco antimoniato de meglumina, constituindo-se uma solução injetável, tendo cada ampola de 5mL e em cada mL contém 81 mg/mL de antimônio pentavalente. O cálculo de dosagem é realizado em mg/Kg/dia/Sb+5: recomenda-se não ultrapassar 3 ampolas. A administração do medicamento depende do tipo de leishmaniose, por exemplo, a visceral é recomendada a administração parenteral de 20 mg/Kg/dia de antimônio pentavalente (Sb+5) durante 20 dias consecutivos. Já na tegumentar, há uma variação de 10 a 20 mg de Sb+5/Kg/dia com tempos diferentes a depender o grau e evolução da doença.

A Leptospirose é uma doença infecciosa, causada por uma bactéria chamada Leptospira interrogans, que se estabelece nos rins de ratos e outros animais (bois, porcos, cavalos, cães e cabras também podem adoecer e, eventualmente, transmitir a leptospirose ao homem). As leptospiras penetram no corpo pela pele, principalmente por arranhões ou ferimentos, e também pela pele íntegra, imersa por longos períodos na água ou lama contaminada.

Figura 4 - Agente etiológico da leptospirose (Leptospira interrogans)

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Fonte: http://www.medicinapratica.com.br/2010/03/26/saude-medicina-pratica/leptospirose-o-que-e-2/

A doença é transmitida através de água contaminada com urina de um animal, geralmente de roedores, infectado ou por manipulação de tecidos de um animal infectado. A população considerada de risco, é a exposta a rios, córregos e águas paradas contaminadas, trabalhadores rurais e manipuladores de carne e veterinários.

Os principais sintomas são febre, dor de cabeça e dores pelo corpo, principalmente nas panturrilhas. Podem também ocorrer vômitos, diarreia e tosse. Nas formas graves, geralmente aparece icterícia (pele e olhos amarelados), sangramento e alterações urinárias. Pode haver necessidade de internação hospitalar. Para fins de diagnóstico, o método laboratorial de escolha depende da fase evolutiva em que se encontra o paciente.

O tratamento dessa infecção é feito com antibioticoterapia (penicilina ou doxiciclina) em qualquer período da doença, mas sua eficácia parece ser maior na 1ª semana do início dos sintomas. E a prevenção ocorre por meio de medidas como obras de saneamento básico, controle de roedores e evitando o contato com água ou lama de enchentes e impedir que crianças nadem ou brinquem nessas águas. Pessoas que trabalham na limpeza de lama, entulhos e desentupimento de esgoto devem usar botas e luvas de borracha (ou sacos plásticos duplos amarrados nas mãos e nos pés).

            A Hanseníase é uma doença crônica transmissível de investigação obrigatória em todo o país, causada pelo Bacilo Micobacterium leprae, que possui a capacidade de infectar um grande contingente, além de poder danificar o sistema nervoso e a pele, características que conferem à doença um alto poder incapacitante. A infecção pode ocorrer em pessoas de qualquer idade. Contudo, é necessário muito tempo de exposição à bactéria, de modo que apenas uma parcela da população infectada demonstra os sintomas, que são a aparição de manchas na pele, dor e sensação de choque ao longo dos nervos dos membros, úlceras nas pernas e pés, febre edemas e dor nas juntas, etc. A hanseníase é transmitida pelas vias aéreas superiores (tosse ou espirro), por meio do convívio próximo e prolongado com uma pessoa doente sem tratamento.

A doença apresenta longo período de incubação, ou seja, tempo em que os sinais e sintomas se manifestam desde a infecção. Geralmente, é em média de 2 a 7 anos. Há referências com períodos mais curtos, de 7 meses, como também mais longos, de 10 anos. O diagnóstico é realizado por meio de exames gerais, dermatológicos e neurológicos para identificação de comprometimentos em nervos e regiões da pele. O Sistema Único de Saúde (SUS) disponibiliza o tratamento e acompanhamento da doença em unidades básicas de saúde e em referências.

Figura 5 - Manifestações cutâneas da hanseníase

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Fonte: http://www.dinomarmiranda.com/2019/01/hanseniase-brasil-e-o-segundo-pais-com.html

O tratamento da doença é realizado com a Poliquimioterapia (PQT), uma associação de antimicrobianos recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Essa associação diminui a resistência medicamentosa do bacilo, que ocorre com frequência quando se utiliza apenas um medicamento, o que acaba impossibilitando a cura da doença. Os medicamentos são seguros e eficazes. O paciente deve tomar a primeira dose mensal supervisionada pelo profissional de saúde. As demais são auto administradas. Ainda no início do tratamento, a doença deixa de ser transmitida. Familiares, colegas de trabalho e amigos, além de apoiar o tratamento, também devem ser examinados.

 

REFERÊNCIAS

FOSS, Norma Tiraboschi. Hanseníase: aspectos clínicos, imunológicos e terapêuticos. Anais brasileiros de imunologia, Rio de Janeiro, v. 74, n. 2, 1999.

SILVA, Luiz Jacintho da. O controle das endemias no Brasil e sua história. Ciência & Cultura, São Paulo, v. 55, n. 1, p. 44-7, jan./fev. 2003.

Ministério da saúde. Leptospirose. Disponível em : <http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/leptospirose#oque>. Acesso em agosto de 2019.

Manual MSD. Versão para profissionais da saúde: leptospirose. Disponível em: <https://www.msdmanuals.com/pt-br/profissional/doen%C3%A7as-infecciosas/espiroquetas/leptospirose>. Acesso em agosto de 2019.

Brasil, Ministério da Saúde, & Secretaria de Vigilância em Saúde. "Doenças infecciosas e parasitárias: guia de bolso." (2010). Acesso em agosto de 2019.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Esquistossomose: causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção. Disponível em: http://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/esquistossomose. Governo do Brasil. 2018. Disponível em: <http://legado.brasil.gov.br/noticias/saude/2017/08/sus-oferece-diagnostico-e-tratamento-gratuitos-contra-a-leishmaniose> Acesso em agosto de 2019.

Biblioteca virtual em saúde. Leishmaniose. 2007. Disponível em: <http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/126leishmaniose.html> Acesso em agosto de 2019.

GLUCANTIME® (antimoniato de meglumina) Sanofi-Aventis Farmacêutica Ltda. Disponível em:<http://www.anvisa.gov.br/datavisa/fila_bula/frmVisualizarBula.asp?pNuTransacao=991282015&pIdAnexo=2435258> Acesso em agosto de 2019.