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Cientista da UFPB coordena programa internacional de pesquisas nas Ilhas Galápagos

publicado: 02/09/2022 15h54, última modificação: 02/09/2022 15h54
Vinte e dois estudos proporão medidas para ocupação, turismo e mudanças climáticas

Foto: Divulgação

A cientista do Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Luciana Barbosa está coordenando programa internacional de pesquisas nas Ilhas Galápagos, arquipélago vulcânico no Oceano Pacífico, a mil quilômetros da costa do Equador, na América Latina e Caribe, famoso por ter sido explorado pelo naturalista inglês Charles Darwin, entre 1831 e 1836. Ao todo, estão previstos 22 subprojetos que deverão ser concluídos em seis anos.

O programa internacional investigará a biodiversidade aquática e os principais aspectos do funcionamento de ecossistemas aquáticos, como rios, lagos, lagoas e pântanos, a fim de propor medidas de mitigação da ocupação e do turismo desordenados e de adaptações aos efeitos das mudanças climáticas, tendo em vista que o arquipélago é considerado uma área altamente vulnerável a problemas socioambientais.

Segundo Luciana Barbosa, muitos artigos e pesquisas científicas têm indicado o aumento de escoamentos agrícolas e de descargas de esgoto não tratado nas ilhas, elevando as concentrações de nutrientes nos rios, lagos, lagoas e pântanos. “Isso pode levar a um processo de eutrofização dos corpos d'água. Associado ao crescimento das temperaturas em escala global, tal incremento de nutrientes e sais pode agravar este cenário”, alerta a cientista da UFPB.

A eutrofização é o processo de poluição de corpos d'água [rios, lagos, lagoas e pântanos], que acabam adquirindo uma coloração turva e ficando com níveis baixíssimos de oxigênio dissolvido. Isso provoca a morte de diversas espécies animais e vegetais e tem um altíssimo impacto para os ecossistemas aquáticos.

Luciana Barbosa explica que, de modo geral, as ilhas Galápagos apresentam uma zonação caracterizada por terras altas úmidas, terras baixas secas e uma zona de transição. No entanto, devido às pressões antrópicas, a vegetação tem registrado alterações em sua distribuição. Outro ponto importante é que as condições áridas vêm se mantendo ao longo do tempo.

“A anomalias térmicas associadas ao El Niño e à La Niña [alterações na temperatura da água do Oceano Pacífico] parecem ter piorado nos últimos 20 anos, com aumento das temperaturas da superfície do mar, das chuvas e potencial ocorrência de secas extremas subsequentes, respectivamente”, alerta a pesquisadora da UFPB.

Os ecossistemas aquáticos das sete Ilhas do arquipélago de Galápagos pesquisadas são amplamente distribuídos entre as zonas litorâneas, terras altas e baixas. Até o momento, foram selecionados 60 para serem monitorados em sete ilhas do arquipélago, entre elas San Cristobal, Santa Cruz, Genovesa, Isabela e Floreana.

“O acesso às ilhas certamente é um ponto importante e determinante, mas igualmente relevantes foram a ocupação humana e ausência de ocupação, entre outros fatores. Um dos pontos mais importantes é que Galápagos são considerados icônicos pela importância histórica, pela teoria da evolução de Darwin, bem como do ponto de vista de biodiversidade, com espécies raras e endêmicas (nativas)”, destaca Luciana Barbosa.

A professora e pesquisadora da UFPB pontua que um hotspot, como é conhecida uma área com maior impacto climático, pode ser definido de acordo com algumas análises que determinam, por exemplo, o grau de exposição aos efeitos do aquecimento global e das mudanças climáticas; caracterização de estresse associados à sinergia das atividades humanas e aquecimento global, bem como efeitos socioeconômicos associados às secas mais frequentes e redução chuvas, por exemplo, em regiões mais secas/áridas.

Com múltiplas abordagens (monitoramento, paleoecologia e experimental), os 22 estudos terão como método o “espaço pelo tempo” (space for time, em inglês), que, na opinião de Luciana Barbosa, é extremamente interessante e tem sido amplamente usado em estudos ecológicos contemporâneos, onde a análise de dados em escala espacial representa uma fotografia atual e que pode ser usada para compreensão de processos temporais passados e futuros experimentos.

Conforme registros históricos, as ilhas Floreana, Isabela, San Cristobal e Santa Cruz são habitadas de acordo com as regras estabelecidas para limitar a ocupação humana a 3% da área total das ilhas, com tamanho populacional aumentando progressivamente de 1970 em diante. Assim, com este programa internacional de pesquisas, será possível identificar variações e formas de adaptação dos sistemas às novas condições impostas pela sinergia aquecimento global e pressão humana.

“Espera-se com o programa internacional justamente identificar padrões de distribuição de espécies e suas vulnerabilidades e indicar cenários futuros de aumentos nas temperaturas, agravamento de secas e efeitos sobre os recursos hídricos das ilhas, mostrando, por exemplo, limites de aumento temperatura para manutenção espécies e saúde ecossistêmica”, adianta a cientista da UFPB.

O programa de pesquisas inclui também educação ambiental e análise etnoecológica, com o intuito de envolver a população que habita as ilhas e turistas do arquipélago. Para Luciana Barbosa, entre as potenciais medidas, estão as de ampliar a proteção das áreas costeiras, ordenar a ocupação humana e verificar como é possível restaurar a vegetação nativa, favorecendo a absorção de gases do efeito estufa.

“No entanto, isso tudo é muito prematuro, pois precisamos gerar dados e modelos para fundamentar decisões. Nossa primeira reunião oficial ocorreu este ano, 10 de junho, com o objetivo de apresentar e discutir pontos da proposta com todos os membros. No entanto, como coordenação, temos realizado reuniões há mais de um ano, com fins de gerar hipóteses, objetivos, bem como a parte teórica e experimental”, explica a pesquisadora.

Luciana Barbosa convidou os professores e cientistas da UFPB Davi Diniz e Rosemberg Menezes para auxiliá-la. Ao todo, são 17 instituições envolvidas, de diversos países. Entre elas, está a Rede de Limnologia de Terras Secas (INLD), criada por ela, em 2016, em Areia, no campus II da UFPB, na Região Geográfica Imediata de Campina Grande, a 127 km de João Pessoa, no Agreste paraibano, durante o I simpósio de Limnologia do Semiárido Brasileiro.

Hoje, a INLD tem representantes em todos os continentes e é um Grupo de Trabalho (GT) da Sociedade Internacional de Limnologia. A próxima reunião do programa internacional de pesquisas nas ilhas Galápagos será em Berlim, em agosto.

Também são coordenadores do programa internacional Carlos Luis Lopez Lozada, da Escuela Superior Politécnica del Litoral, no Equador, e Jenifer Suárez-Moncada e Eduardo Espinoza, do Parque Nacional de Galápagos.

“Esperamos estabelecer as ilhas Galápagos como área de referência para pesquisas em regiões de sequeiro. Estamos começando a preparar publicações. Uma foi publicada no ano passado. Esse estudo mostra o efeito da introdução de espécies exóticas e sua erradicação. Certamente, a expectativa é que todos os artigos sejam de alto impacto”, finaliza Luciana Barbosa.

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Reportagem: Pedro Paz
Edição: Aline Lins
Foto: Divulgação