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Jovem com doença crônica deve evitar internação hospitalar, alerta pesquisadora da UFPB

Segundo estudo, ficar longe da família, amigos e escola acarreta piora da condição de saúde
publicado: 03/04/2020 19h53, última modificação: 03/04/2020 20h07
Pesquisa analisou 178 crianças e adolescentes internadas em unidades como o HU. Grupo é vulnerável para Covid-19. Pesquisadora defende eficiência na Atenção Primária. Foto: Angélica Gouveia

Pesquisa analisou 178 crianças e adolescentes internadas em unidades como o HU. Grupo é vulnerável para Covid-19. Pesquisadora defende eficiência na Atenção Primária. Foto: Angélica Gouveia

A pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Modelos de Decisão e Saúde da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Nívea Trindade, alerta que crianças e adolescentes com doenças crônicas devem obter tratamentos na Rede de Atenção Primária ("Saúde em Família") e evitar internações em hospitais para não piorar o quadro de saúde. 

O estudo de Nívea, “Fatores de risco associados às internações hospitalares de crianças e adolescentes com doença crônica: aplicação de um modelo de decisão”, analisou 178 jovens que estavam sendo tratados nos hospitais Universitário Lauro Wanderley, Infantil Arlinda Marques e Municipal do Valentina, centros de referência em João Pessoa. 

O ideal seria que tivéssemos uma atenção primária mais eficaz, que conseguisse criar um vínculo maior com as famílias e, assim, poder ser o ponto de rede que oferta cuidado à criança. Em certas situações, as famílias procurariam primeiro este serviço e não o hospital”, argumenta. 

No estudo da pesquisadora, foram analisadas 133 crianças e 45 adolescentes, 94 do sexo masculino e 84 do feminino – com doenças crônicas como diabetes mellitus tipo I, asma, anemia falciforme, neuropatia, síndrome de down, fibrose cística, síndrome nefrótica (distúrbios renais e urinários) e osteogênese imperfeita (fragilidade nos ossos e dentes). 

As mudanças mais significativas sofridas pelas crianças são o distanciamento do lar, por conta da hospitalização, e o afastamento da escola, de amigos, de atividades corriqueiras de meninos e meninas que não estão hospitalizados. Isso acarreta danos ainda maiores para a condição de saúde delas”, ressalta. 

Na estrutura familiar dos pacientes, Nívea afirma que houve o predomínio de cuidadores que não trabalhavam (62%), alfabetizados (97%) e com até cinco filhos (96%). Ela conta que as frequentes internações estão em crianças e adolescentes com deficiência motora, que têm cuidadores solteiros e não há envolvimento familiar nos cuidados deles. 

Indivíduos que se encontram na fase crônica da doença e têm o hospital como primeiro serviço. Muitas vezes, internaram-se para realizar exames e possuem restrições no desenvolvimento de atividades físicas, algum tipo de sequela ou danos em decorrência da enfermidade”, acentua. 

Para a pesquisadora, gestores de saúde pública têm que estimular cuidados na Rede de Atenção Primária a fim de reduzir danos que possam ser adquiridos em hospitais, além de diminuir custos elevados e desnecessários. “Dentro de uma instituição hospitalar, os custos estão relacionados à complexidade do tratamento. Esses gastos vão desde medicações, que dependendo da patologia podem ter um valor elevado, até exames”, relata. 

Nívea atesta que a Política Nacional de Atenção Básica - instituída pela Portaria 2.436/2017, do Ministério da Saúde (MS) - é “uma estratégia útil para auxiliar nas tomadas de decisão dos profissionais da rede de saúde, no que se refere aos fatores de risco, tentando de alguma forma intervir para minimizar ou extingui-los”. 

De acordo com a pesquisadora, com o desenvolvimento de uma atenção básica preparada e fortalecida, seria possível resolver até 80% dos problemas de saúde. “Uma atenção primária nas redes de Atenção Básica - através de ações de prevenção, tratamento e controle de algumas doenças, com um conjunto de diagnósticos e intervenções - evitaria o agravamento do problema de saúde, melhorando as condições de vida e reduzindo a demanda dos serviços de maior complexidade”, acredita. 

O Ministério da Saúde define como Atenção Primária à Saúde um conjunto de iniciativas para cuidados da população no ambiente em que vive. Os programas Saúde na Hora, Médicos pelo Brasil, Conecte SUS e Previne Brasil são alguns que atuam na Rede de Atenção Primária. 

As ações e estratégias desse conjunto dizem respeito ao primeiro nível de atenção em saúde e abrangem a promoção e a proteção da saúde. Prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos e manutenção da saúde estão entre os objetivos almejados nos serviços oferecidos à população. 

Grupo de risco para Covid-19 

Nívea Trindade reforça que, diante da atual pandemia do novo coronavírus (Covid-19), as crianças e adolescentes com doenças na fase crônica fazem parte do grupo de risco e têm maior probabilidade a frequentes internações. “Isso pode ser explicado porque, na fase crônica, a doença se apresenta de forma progressiva, constante (apresenta limitações residual ou funcional) e reincidente (períodos estáveis, com remissão dos sinais e sintomas) e pode até levar o doente à morte”, adverte. 

Conforme a pesquisadora, neste momento, é fundamental que gestores compreendam a necessidade de uma educação permanente para viabilizar o processo de trabalho dos profissionais dos serviços de saúde, que não só o hospitalar. “Com ações desse tipo, pode ocorrer a diminuição das taxas frequentes de internações. Algumas atitudes podem ser executadas em outros serviços que diminuem a gravidade dos problemas ocasionados pela doença crônica”, alega. 

O estudo de Nívea evidencia que a situação de pandemia tem mostrado que a administração de saúde púbica brasileira deve buscar um fortalecimento da Atenção Primária à Saúde. “Precisamos estar habilitados a fornecer uma assistência mais ampla, integral e com maior grau de resolutividade, focando na necessidade de doenças crônicas”, enfatiza. 

Diante dos riscos, a pesquisadora diz que os profissionais devem estar preparados para dar as orientações adequadas e seguir as diretrizes do Ministério da Saúde. “Não sabemos ainda como ficará a vida de um cidadão que tenha sido acometido pelo vírus. Quais os riscos ele pode carregar após a infecção e a ‘cura’. Caso uma criança com doença crônica seja infectada, o risco se torna muito maior para seu quadro”, assevera. 

Jonas Lucas Vieira | Ascom/UFPB