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Pesquisa da UFPB, UFPE, UFV, IFGoiano e Unicamp projeta perda de espécies em 99% das comunidades de plantas da Caatinga

publicado: 27/06/2023 15h38, última modificação: 28/06/2023 09h51
Em um cenário otimista, a previsão é que 45 espécies de plantas sejam extintas da Caatinga até 2100

Pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Instituto Federal Goiano (IFGoiano) e Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) realizaram, por meio de construções de modelos estatísticos e de inteligência artificial, uma projeção dos cenários futuros de distribuição geográfica das plantas da Caatinga diante das mudanças climáticas.

A abordagem empregada sintetizou mais de um milhão de projeções das possíveis respostas que 3 mil espécies de plantas poderiam ter com as mudanças climáticas, cada projeção foi registrada em mapa. Os resultados da pesquisa indicaram que 99% das comunidades de plantas da Caatinga experimentarão perda de espécies até 2060, com uma simplificação da composição de espécies em 40% da região, isso em um cenário otimista, no qual haja uma conscientização da humanidade e surgimento de novas tecnologias para redução da poluição, emissão de gases de efeito estufa, dentre outros.

“No geral, espécies arbóreas e raras serão substituídas por espécies não-arbóreas e generalistas, ou seja, capazes de ocorrer em várias regiões do bioma. Esse tipo de mudança na estrutura da vegetação pode causar uma diminuição de serviços ecossistêmicos, como produção de biomassa vegetal e armazenamento de carbono”, disse o Professor Mário Moura, do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade (PPGBio) do Centro de Ciências Agrárias (CCA), um dos pesquisadores da equipe.

Na UFPB também integra o grupo de pesquisadores o Prof Bráulio Almeida Santos, do Departamento de Sistemática e Ecologia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza. Atuam ainda no projeto os pesquisadores Fellipe Nascimento (UFPE) e Daniel de Paiva Silva (IFGoiano).

O trabalho pode ser conferido em artigo publicado nesta terça-feira, dia 27 de junho, no Journal of Ecology, renomado periódico internacional que publica pesquisas de ponta em ecologia vegetal. 

De acordo com Mário Moura, tanto em um cenário otimista quanto em um pessimista a respeito das mudanças climáticas, a projeção é que haja muitas perdas de espécies de plantas da Caatinga até 2100. “Nossas projeções indicam que, para o ano de 2100, teremos 45 espécies de plantas extintas em um cenário otimista e 258 espécies extintas em um cenário pessimista”, disse o pesquisador.

Segundo o IBGE, a Caatinga ocupa hoje no Brasil uma área de 862.818 km², que significa 9,9% do território nacional. As projeções da pesquisa mostram, ainda, que existem localidades na Caatinga onde podem deixar de nascer até 600 espécies de plantas que hoje existem nas áreas, considerando um cenário otimista. No cenário pessimista, esses locais podem perder mais de mil espécies.

As regiões que mais terão perda de espécies, de acordo com o estudo, se concentram ao sul do bioma, especialmente na Chapada Diamantina; no entanto, áreas como a Chapada do Araripe (divisa de CE, PE, PI) e a Serra da Ibiapaba (na divisa de PI e CE) também devem sofrer perdas acentuadas.

O trabalho foi possível a partir da construção de um banco de dados sem precedentes, com mais de 400 mil registros de ocorrência verificados para cerca de 3 mil espécies de plantas. Esses dados foram complementados pela forma de crescimento de cada espécie, isto é, se a espécie é arbórea, arbustiva, herbácea, suculenta, uma erva ou trepadeira.

Os pesquisadores usaram como base para a pesquisa informações do Painel Intergovernamental sobre Mudança do Clima 2021 (IPCC) que lança estimativas de como será o clima futuro do planeta na forma de relatórios que descrevem em detalhes como a exploração de combustíveis fósseis, e o crescimento populacional humano podem interagir e afetar o clima do planeta.

A pesquisa explorou dois cenários, sendo um pessimista e um otimista, no qual foram avaliadas 19 características ambientais, entre elas temperatura média anual, precipitação total anual, métricas computadas somente para estação chuvosa, estação seca, e métricas que informem a variação da temperatura e precipitação ao longo do ano.

Os cenários (otimista e pessimista) foram computados para os anos de 2050 e 2100 e, para cada computação, foram adotados 6 tipos diferentes de algoritmos estatísticos e de inteligência artificial para realização das projeções. Assim, além de todo o robusto levantamento e as projeções sobre o futuro das plantas da caatinga frente às mudanças climáticas, e os mapas para cada previsão, a pesquisa gerou mais um produto, dessa vez na área da informática. Os códigos e algoritmos programados para o trabalho foram disponibilizados para download no repositório digital Zenodo, que possibilitará acesso aberto para pesquisadores de todo o mundo.

Para Mário Moura, a pesquisa é um alerta para governos e sociedade sobre a necessidade de que sejam desenvolvidos projetos de recuperação de áreas degradadas e proteção da vegetação remanescente para tentar reproduzir os cenários mais otimistas possíveis.

O trabalho terá continuidade avaliando o impacto de mudanças climáticas junto aos animais mamíferos e répteis da Caatinga.

A pesquisa foi desenvolvida entre 2019 e 2022 no âmbito do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade (PPGBio), do Centro de Ciências Agrárias (CCA) da UFPB, e o Departamento de Sistemática e Ecologia do Centro de Ciências Exatas e da Natureza (CCEN). Contou com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da própria UFPB.

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Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: Fundaj
Ascom/UFPB