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Pesquisa da UFPB investiga o que faz alguém ser favorável ou não ao isolamento social

Mais de 500 pessoas de diferentes estados do país participaram do estudo
publicado: 06/04/2020 22h25, última modificação: 06/04/2020 22h50
Respostas a questionário estão sendo analisadas e resultados serão divulgados em breve. Foto: Reprodução/PB Agora

Respostas a questionário estão sendo analisadas e resultados serão divulgados em breve. Foto: Reprodução/PB Agora

O isolamento social causado pelo novo coronavírus (Covid-19) é um desafio para saúde mental de cada um de nós. A recomendação feita na TV, nos jornais, nas redes socias e por médicos é uma só: fiquem em casa. Diante dessa situação, um estudo realizado pelo professor Valdiney Gouveia, do Departamento de Psicologia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), busca entender que fatores psicológicos poderiam explicar determinadas atitudes e crenças por pessoas diante desta realidade.

Na pesquisa, foram incluídos fatores psicológicos como valores humanos, traços sombrios (psicopatia, maquiavelismo e narcisismo), luminosos (altruísmo, gratidão e perdão), personalidade e crenças em teorias da conspiração, além de variáveis demográficas (orientação política).

O que queremos saber é se, de fato, as pessoas que têm determinados valores e traços de personalidade, além de crenças em teorias da conspiração, apresentam padrão psicológico que evidencia conduta mais (ir)responsável em relação ao Covid-19”, relata Valdiney.

Para averiguar os fatores, foi realizado um levantamento na internet, divulgado em redes sociais (Facebook, Instagram e Whatsapp) e incluindo diversos instrumentos objetivos, previamente checados em termos de evidências de validade e precisão, procurando, assim, ter resultados confiáveis.

Disponível na internet por dez dias, mais de 500 pessoas participaram. Elas têm 18 anos ou mais de idade, são de diferentes estados e toparam responder às questões de maneira voluntária e anonimamente.

Pensamos que a Psicologia poderá dar uma contribuição relevante, pois o fenômeno tem sido inevitável. Porém, sua proliferação dependerá muito da conduta humana, sobretudo de sua capacidade de renunciar ao convívio em grupos, restringindo seus contatos”, conta Gouveia.

De acordo com o docente, desta maneira podemos conhecer que perfis merecem mais atenção, evitando falar apenas em grupos de risco por características físicas ou de saúde. De modo semelhante, conseguirão ser planejadas comunicações que atendam aos perfis psicológicos dos indivíduos, desde que tenham consciência de suas ações e possam evitar a exposição.

O estudo surgiu nas últimas semanas, quando tiveram início os embates no Brasil quanto à necessidade de isolamento social. Naquele momento, houve na internet posições favoráveis e desfavoráveis ao isolamento, assim como debates sobre o tipo de isolamento, isto é, se vertical (unicamente de pessoas em grupos de risco) ou horizontal (todos os que compõem a sociedade).

Nesse instante percebemos que seria necessário compreender o que faz com que alguns adotem medidas preventivas e outros não o façam, tentando pensar em termos de fatores psicológicos que poderiam influenciar crenças, atitudes e condutas frente ao Covid-19”.

Segundo o professor, é necessário formar comitês que considerem diversos profissionais e múltiplas ações, tentando buscar não somente o tratamento paliativo, mas, sim, ações mais contundentes, como testar diferentes fármacos, produzir conteúdo educativos, garantir materiais de higiene, compreender como as pessoas se protegem, conhecer os impactos do isolamento social, garantir assistência psicológica a pessoas com ansiedade e depressão.

Por vezes nos limitamos a encarar o Covid-19 desde uma perspectiva médica tradicional da cura. Não é que não devamos tratar os pacientes; eles demandam atenção urgente. Contudo, precisamos trabalhar de perspectiva multiprofissional e interdisciplinar. A saúde é muito mais do que a cura; é evitar ficar doente. Isso demanda olhar para condições de vida, formas sociais de organização, crenças das pessoas, tipo de alimentação e atividades físicas que podem ser realizadas”, argumenta Gouveia.

Há muito o que fazer. Nós estamos contribuindo em colocar apenas um tijolo nessa imensa parede que pretendemos que isole o Covid-19, mas estamos convencidos de que cada tijolo é realmente importante. Assim, penso que esta pesquisa poderá ser uma contrapartida adicional da UFPB, mostrando que poderemos fazer algo, em diferentes campos, para tentar mitigar efeitos do Covid-19 e, inclusive, eliminá-lo”.

Carlos Germano | Ascom/UFPB