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Pesquisadora da UFPB alerta sobre consumo de aves silvestres no cerrado piauiense
A pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Bruna Dias Pontes, alerta sobre o consumo de animais silvestres no estado do Piauí.
Sob orientação do professor Rômulo Alves, a pesquisa foi desenvolvida nos municípios de Bom Jesus e Palmeira do Piauí e os dados obtidos através de entrevistas com 77 pessoas. Por meio delas, constatou-se que as espécies popularmente conhecidas como juritis (Leptotila spp.) e lambu (Crypturellus parvirostris) eram as mais consumidas na região.
“Pôde-se observar um grande apego pelo consumo da carne oriunda de aves silvestres na região. A maioria dos entrevistados relatou, por vezes, preferir a carne de aves silvestres à de animais de produção, como bovinos e suínos”, explica Bruna.
Depois de abatidas, consoante os dados da dissertação, as aves são “tratadas” e congeladas para serem vendidas em feiras livres ou distribuídas para revendedores nos finais de semana. “Os valores das aves variaram entre R$2 e R$16 por espécime. Encontramos associação significativa entre o preço e a biomassa de cada espécie”, argumenta.
Essa prática evidencia não só questões culturais, mas também estratégias de sobrevivência da população brasileira. No país, existe o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), instituído por meio da Lei nº 11.346/2006 – a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), para garantir a segurança alimentar e nutricional e adotar medidas de combate à fome.
Apesar de a Lei Federal nº 9605/1998 considerar crime o ato de matar, caçar, apanhar e utilizar espécimes da fauna silvestre sem autorização, a prática é corriqueira no Brasil.
“Capturar aves silvestres é uma atividade bastante difundida em todo o território nacional, especialmente nas regiões norte e nordeste. Essa atividade é muito enraizada nas culturas desses povos e as motivações variam de região para região”, pontua Bruna.
De acordo com a pesquisadora da UFPB, para a elaboração de estratégias eficazes de manejo e de conservação da fauna, é indispensável conhecer e entender as relações que os seres humanos mantêm com os animais.
“Nesse sentido, pesquisas etnozoológicas são de extrema importância. É necessário entender e conhecer o perfil socioeconômico dos caçadores, as principais motivações e as espécies utilizadas”, reforça.
Na dissertação de Bruna, foi observado que todos os caçadores eram do sexo masculino e a maioria afirmou capturar aves por hobby e fonte de renda extra. Além disso, notou-se na localidade espécies em risco de extinção, conforme dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN).
“Muitas aves tiveram suas populações diminuídas ao longo dos anos. Algumas não são mais encontradas na região, como por exemplo o bicudo (Sporophila maximiliani), utilizado como pet, e o jaó (Crypturellus undulatus), para fins de alimentação”, conta a pesquisadora.
Bruna ressalta que aves também eram capturadas com o intuito de se tornarem animais de estimação, a exemplo do galo-de-campina/cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), pássaro-preto/graúna (Gnorimopsar chopi), canário-da-terra (Sicalis flaveola), sofreu/corrupião (Icterus jamacaii), curió (Sporophila angolensis), bigode (Sporophila lineola) e do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva).
“Geralmente, após as aves serem capturadas, preparadas e ficarem ‘prontas’ para a venda, são comercializadas com valores que variam de R$50 a R$800. A comercialização, na grande maioria das vezes, é realizada por caçadores ou atravessadores residentes na zona urbana”, revela a pesquisadora da UFPB.
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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB