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Pesquisadora da UFPB alerta sobre consumo de aves silvestres no cerrado piauiense

Animais como juriti e lambu são vendidos em feiras livres por valores entre R$2 e R$16
publicado: 13/05/2020 18h49, última modificação: 13/05/2020 22h44
Atividade ilegal e sem segurança sanitária foi identificada nos municípios de Bom Jesus e Palmeira do Piauí e tem provocado a extinção de espécies. Foto: Reprodução/ Bruna Dias Pontes

Atividade ilegal e sem segurança sanitária foi identificada nos municípios de Bom Jesus e Palmeira do Piauí e tem provocado a extinção de espécies. Foto: Reprodução/ Bruna Dias Pontes

A pesquisadora do Programa de Pós-graduação em Ciências Biológicas da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Bruna Dias Pontes, alerta sobre o consumo de animais silvestres no estado do Piauí. 

Sob orientação do professor Rômulo Alves, a pesquisa foi desenvolvida nos municípios de Bom Jesus e Palmeira do Piauí e os dados obtidos através de entrevistas com 77 pessoas. Por meio delas, constatou-se que as espécies popularmente conhecidas como juritis (Leptotila spp.) e lambu (Crypturellus parvirostris) eram as mais consumidas na região. 

“Pôde-se observar um grande apego pelo consumo da carne oriunda de aves silvestres na região. A maioria dos entrevistados relatou, por vezes, preferir a carne de aves silvestres à de animais de produção, como bovinos e suínos”, explica Bruna. 

Depois de abatidas, consoante os dados da dissertação, as aves são “tratadas” e congeladas para serem vendidas em feiras livres ou distribuídas para revendedores nos finais de semana. “Os valores das aves variaram entre R$2 e R$16 por espécime. Encontramos associação significativa entre o preço e a biomassa de cada espécie”, argumenta. 

Essa prática evidencia não só questões culturais, mas também estratégias de sobrevivência da população brasileira. No país, existe o Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional (Sisan), instituído por meio da Lei nº 11.346/2006 – a Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (Losan), para garantir a segurança alimentar e nutricional e adotar medidas de combate à fome. 

Apesar de a Lei Federal nº 9605/1998 considerar crime o ato de matar, caçar, apanhar e utilizar espécimes da fauna silvestre sem autorização, a prática é corriqueira no Brasil. 

“Capturar aves silvestres é uma atividade bastante difundida em todo o território nacional, especialmente nas regiões norte e nordeste. Essa atividade é muito enraizada nas culturas desses povos e as motivações variam de região para região”, pontua Bruna. 

De acordo com a pesquisadora da UFPB, para a elaboração de estratégias eficazes de manejo e de conservação da fauna, é indispensável conhecer e entender as relações que os seres humanos mantêm com os animais. 

“Nesse sentido, pesquisas etnozoológicas são de extrema importância. É necessário entender e conhecer o perfil socioeconômico dos caçadores, as principais motivações e as espécies utilizadas”, reforça. 

Na dissertação de Bruna, foi observado que todos os caçadores eram do sexo masculino e a maioria afirmou capturar aves por hobby e fonte de renda extra. Além disso, notou-se na localidade espécies em risco de extinção, conforme dados da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN). 

“Muitas aves tiveram suas populações diminuídas ao longo dos anos. Algumas não são mais encontradas na região, como por exemplo o bicudo (Sporophila maximiliani), utilizado como pet, e o jaó (Crypturellus undulatus), para fins de alimentação”, conta a pesquisadora. 

Bruna ressalta que aves também eram capturadas com o intuito de se tornarem animais de estimação, a exemplo do galo-de-campina/cardeal-do-nordeste (Paroaria dominicana), pássaro-preto/graúna (Gnorimopsar chopi), canário-da-terra (Sicalis flaveola), sofreu/corrupião (Icterus jamacaii), curió (Sporophila angolensis), bigode (Sporophila lineola) e do papagaio-verdadeiro (Amazona aestiva). 

“Geralmente, após as aves serem capturadas, preparadas e ficarem ‘prontas’ para a venda, são comercializadas com valores que variam de R$50 a R$800. A comercialização, na grande maioria das vezes, é realizada por caçadores ou atravessadores residentes na zona urbana”, revela a pesquisadora da UFPB. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB