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Pesquisadores da UFPB desenvolvem modelo inédito de avaliação de reservatórios do semiárido nordestino

publicado: 08/02/2024 15h08, última modificação: 08/02/2024 15h08
Modelo foi aplicado em análise de barragens no Rio Grande do Norte e poderá ser utilizado também em outros estados da região

Foto: Raylton Alves/Banco de Imagens da ANA

Com base em técnicas matemáticas, pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Modelagem de Problemas Estratégicos, de Decisão e de Negócio (GPMEDEN) da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) desenvolveram um modelo específico de avaliar reservatórios de bacias hidrográficas localizadas em regiões com clima semiárido, que poderá ser aplicado, por exemplo, em diversas localidades do sertão nordestino. 

Elaborado pelos professores da UFPB Camila Salgado, do Centro de Ciências Humanas, Sociais e Agrárias (CCHSA), e Renan Felinto, do Centro de Ciências Sociais Aplicadas (CCSA), o estudo que descreve o modelo foi publicado em janeiro deste ano no periódico Sociedade e Natureza, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU). A pesquisa também contou com o apoio da Universidade Federal Rural do Semi-Árido (UFERSA). 

Para validar o novo modelo, os pesquisadores da UFPB analisaram 13 reservatórios que fazem parte das bacias dos rios Piranhas-Açu (9 açudes) e Apodi-Mossoró (4 açudes), importantes cursos d’água do Rio Grande do Norte. Os dados obtidos pelos cientistas são da Agência Nacional de Águas (ANA) e do Programa Água Azul (PAA), parceria entre órgãos públicos e instituições de ensino potiguares que tem o objetivo de realizar o monitoramento sistemático da qualidade das águas dos reservatórios do Rio Grande do Norte. 

A novidade do modelo criado pelos pesquisadores da UFPB é a ampliação da forma de análise dos corpos d’água, passando a considerar o cálculo do Índice de Qualidade das Águas (IQA) – metodologia que avalia a qualidade da água a partir de suas características físico-químicas e biológicas – uma das fases do processo, diferentemente das análises comumente realizadas, que consideram o IQA a única etapa da análise das águas. 

Na nova metodologia, em conjunto a outros parâmetros reunidos em categorias como necessidade e disponibilidade, o IQA foi aplicado como critério ao R-TOPSIS, método matemático do campo da tomada de decisão que é uma extensão da TOPSIS, sigla em inglês para ‘Técnica de Ordem de Preferência por Similaridade com a Solução Ideal’. 

A categoria necessidade é composta de critérios como abastecimento rural e urbano, além de disponibilidade de uso de água para a agropecuária e atividade industrial. Na categoria disponibilidade, esses critérios dizem respeito ao vetor de evaporação (quantidade de água perdida anualmente pela evaporação) e de chuva, volume afluente (volume total que flui para o reservatório em um ano) e proporção volumétrica (razão entre volume e capacidade do reservatório). 

Para definir os critérios e colocá-los em ordem de importância de acordo com o desempenho e os usos de cada um dos reservatórios, os pesquisadores da UFPB consultaram especialistas em recursos naturais e em manejo de solo e água. Após esta etapa, finalmente o R-TOPSIS foi aplicado e demonstrou que os resultados do novo modelo apresentaram diferenças significativas se comparados às análises que consideram apenas o IQA. 

“A barragem Pataxós, por exemplo, possui o melhor IQA, mas no modelo que incluiu mais critérios ficou em segundo lugar. Da mesma forma, o reservatório Rodeador apresentou o pior IQA, mas ficou em sétimo lugar no modelo holístico, subindo seis posições no ranking. Isso reforça a relevância de ter considerado mais critérios de análise”, explicaram, no artigo, os autores. 

Ainda de acordo com os docentes, o modelo criado produz resultados robustos e também reflete a dinamicidade do contexto, ou seja, pode ser replicado para avaliação de reservatórios, barragens e açudes de outras regiões com comportamento climático semelhante, como no interior da Paraíba e de outros estados do Nordeste. 

“Como tal, a abordagem é aplicável a qualquer avaliação de reservatório e é importante para as autoridades que lidam com a gestão da água, podendo contribuir na identificação dos reservatórios com situação, de fato, mais crítica de abastecimento, para os quais devem ser direcionadas as medidas adequadas para remediar esses cenários”, concluiu o pesquisador Renan Felinto. 

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Texto: Vinícius Vieira
Edição: Aline Lins
Foto: Raylton Alves/Banco de Imagens da ANA
Ascom/UFPB