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Professor da UFPB integra grupo de cientistas que identificou lacunas em pesquisas ecológicas na Amazônia

publicado: 22/09/2023 16h42, última modificação: 26/09/2023 10h36
40% das localidades nunca receberam investigação ecológica

Foto: TV Brasil

Um estudo publicado na Revista Current Biology revelou que existem áreas da Amazônia que são pouco investigadas cientificamente. Além disso, as áreas subamostradas são as mesmas que estão previstas como pontos críticos de mudanças climáticas e desmatamento nas próximas décadas. O estudo foi realizado por mais de 500 pesquisadores de todo o mundo reunidos no Consórcio Synergize, e o professor Mário Moura, do Programa de Pós-graduação em Biodiversidade (PPGBio) do Centro de Ciências Agrárias (CCA), é um dos cientistas da equipe.

O pesquisador da UFPB Mário Moura, junto a outras duas cientistas da USP, Raquel Carvalho e Angélica Rezende, foi responsável por realizar as análises estatísticas do trabalho, redação das análises, e preparação das imagens demonstrativas. Segundo Mário Moura, as lacunas no conhecimento sobre a Amazônia ameaçam a conservação do bioma, do qual 40% das localidades nunca receberam investigação ecológica, conforme aponta o estudo que analisou dados de quase 8 mil localidades inventariadas entre 2021 e 2020.

Partindo do levantamento e considerando critérios que podem influenciar a escolha do local de coleta, os cientistas criaram um modelo que estimou a probabilidade de pesquisa para todo o território.

“Nós utilizamos um método de inteligência artificial para quantificar a probabilidade de diferentes regiões e habitats da Amazônia de receberem pesquisas ecológicas. Embora seja reconhecida como a floresta tropical mais biodiversa do mundo, a Amazônia está entre as florestas menos conhecidas das Américas", explicou o pesquisador.

O estudo demonstrou que mais da metade das terras firmes, cerca de um quarto dos ambientes aquáticos e um sexto das florestas alagáveis da Amazônia possuem uma probabilidade quase nula de serem objeto de estudos científicos. A região em que há menor volume de pesquisas coincide com parte das áreas ameaçadas, no chamado “arco do desflorestamento”, região que abrange os limites sul, sudeste e leste da Amazônia e se concentra em parte dos Estados do Acre, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia e Tocantins.

“O tamanho das lacunas de conhecimento varia conforme o ambiente. Dentre as áreas com menos de 10% de probabilidade de realização de pesquisa estão 54% das áreas não inundáveis, 27% dos habitats aquáticos e cerca de 17% das áreas úmidas.”

As estimativas dos pesquisadores apontam ainda que, dentre as regiões menos investigadas (aquelas com menos de 5% de chances de receber pesquisas ecológicas) cerca de 18% também enfrentarão mudanças significativas de clima e degradação de habitats até 2050, devendo ficar mais quentes e mais secas devido a diversas formas de degradação impostas pelo homem e pela natureza.

“E essas áreas são desconhecidas, a gente não sabe qual a biodiversidade desses locais, a gente não monitora essa biodiversidade, e esses impactos previstos de origem humana podem afetar negativamente essa biodiversidade e a gente não vai saber. Se chegarmos lá para estudar depois que os impactos aconteceram, com o que a gente vai comparar? Não tem esse cenário anterior construído ainda para grande parte da Amazônia”, explicou o pesquisador.

A pesquisa foi realizada entre 2021 e 2023. Os resultados também apontam que são fatores em comum das áreas mais negligenciadas a distância dos grandes centros de pesquisa do país, bem como a logística de acesso a lugares não inundáveis, os quais não se pode chegar por meio de barco ou o tempo de viagem desde os grandes centros urbanos.

Para Mário Moura, é possível minimizar as lacunas de conhecimento sobre a Amazônia, o trabalho aponta direções que podem contribuir para tal, dentre eles incentivos públicos em ciência e tecnologia, e valorização das universidades localizadas na região

“A gente não pode ter um pensamento colonialista com universidades super-ricas enviando cientistas e pesquisadores para trabalhar na Amazônia sem valorizar os profissionais da região, sem valorizar as comunidades indígenas, então a gente precisa de uma valorização dos profissionais locais, da inserção de oportunidades lá, para tentar reverter essa situação”, explicou Moura.

O pesquisador acredita na necessidade de um alinhamento federal e estadual para o fomento de pesquisas na região, em especial em áreas de difícil acesso, e que para tal é importante a colaboração do Ministério do Meio Ambiente, Funai e Exército para apoiar levantamentos científicos que revelem um retrato mínimo da biodiversidade de locais remotos da Amazônia.

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Texto: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: TV Brasil
Ascom/UFPB