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Projeto da UFPB visa resgate da autoestima de mulheres apenadas por meio da dança como recurso psicopedagógico

publicado: 05/04/2022 15h47, última modificação: 06/04/2022 08h04
São atendidas, aproximadamente, 40 mulheres da Penitenciária Maria Júlia Maranhão e seis mulheres trans da ala LGBTQIAP+ na Penitenciária Desembargador Sílvio Porto

Um projeto realizado por uma aluna do Departamento de Psicopedagogia da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) visa o resgate da autoestima de mulheres apenadas na Penitenciária de Reeducação Feminina Maria Júlia Maranhão e na Penitenciária Desembargador Sílvio Porto, com a população LGBTQIAP+, ambas na cidade de João Pessoa.

Sob a orientação do Prof. Mateus David Finco, o projeto MoveMente: a dança como um recurso psicopedagógico para o empoderamento da mulher privada de liberdade foi desenvolvido no componente curricular de Seminário Temático em Psicopedagogia II, do curso de graduação em Psicopedagogia, pela estudante de graduação Germana Dália de Oliveira, que também é educadora física.

A ação teve início, em agosto de 2017, na Penitenciária Maria Júlia Maranhão e, em janeiro de 2022, na Penitenciária Sílvio Porto, com o objetivo de resgatar a autoestima das mulheres privadas de liberdade por meio do movimento, da alegria e leveza que a dança proporciona. “A dança traz o empoderamento das mulheres e facilita a aprendizagem escolar, pois oferece oportunidades de evoluir e se fortalecer”, disse o professor David Finco. “E com autoestima e empoderadas, espero que as participantes voltem para a sociedade mais conscientes de que podem ser respeitadas e amadas”, completou a estudante Germana Dália.

São atendidas, aproximadamente, 40 mulheres, um terço da população carcerária da Penitenciária Maria Júlia Maranhão, e seis mulheres trans na ala LGBTQIAP+ da Penitenciária Sílvio Porto, que possui 10 apenadas nessa área. As apenadas recebem uniforme do projeto, composto por camisa e short feito pelo Castelo de Bonecas, outro projeto que ocorre dentro do projeto da penitenciária Maria Júlia, e para receberem o kit, as mulheres precisam participar com frequência.

Na psicopedagogia, a aprendizagem do aluno é trabalhada por meio das potencialidades e características individuais, com a identificação de dificuldades de aprendizagem e a busca por melhorias nesse sentido. Os recursos psicopedagógicos são utilizados, por exemplo, no atendimento a autistas, idosos e crianças.

De acordo com Mateus Finco, o projeto MoveMente torna-se um recurso psicopedagógico, pois reforça a identidade cultural e social a partir das reflexões do passado na busca de transformar o futuro. Conforme o professor, muitas mulheres, quando cometem crimes, são abandonadas pelos familiares e cônjuge, tornando a solidão algo inerente ao cárcere.

No MoveMente, a dança como recurso psicopedagógico se relaciona com a autoestima e o empoderamento, a capacidade que o indivíduo tem de realizar as mudanças necessárias para a própria evolução e fortalecimento, bem como a inclusão das privadas de liberdade. As atividades realizadas são de dança, coreografias, manifestações artísticas, reflexão sobre as letras das músicas que causem identificação com o público-alvo, além de leitura de textos. Para Germana, a partir dessas atividades as apenadas são motivadas a transferir para a aprendizagem a disciplina, o foco e o desejo de aprender.

“Quando a gente tá tentando fazer uma coreografia e a gente erra, a gente tenta de novo. Quando a pessoa não tem autoestima e tem medo de errar, ela erra uma vez e não continua mas, aí, quando a gente aprende pela dança que pode errar e continuar tentando até conseguir, a gente transfere isso para os outros ambientes, para o ambiente de aprendizagem escolar, para o nosso ambiente familiar afetivo. Então, a dança é um recurso psicopedagógico por isso, porque acessa o cognitivo, acessa o psicossocial do indivíduo através da musicalidade, da atividade física e da ressignificação dos seus corpos”, disse Germana Dália.

Os encontros do projeto MoveMente ocorrem duas vezes na semana, no pátio da prisão, durante o período de banho de sol, com duração de 1 hora ou 1 hora e meia. As apenadas podem optar em participar das aulas e a assiduidade é contabilizada para garantir o direito de remição de pena assegurada pela Vara de Execuções Penais (VEPE), sendo contabilizado, em média, 12 dias a menos por ano na pena a ser cumprida.

O projeto foi apresentado no III Simpósio Internacional de Gênero e Cultura Prisional, ocorrido em março, na cidade do Porto, em Portugal, e recebeu elogios e incentivos para a continuidade.

“Foi emocionante! Mostrar a outros países que aspectos adquiridos através da corporeidade, da dança, podem e são transferidos para a aprendizagem formal surpreendeu quem assistiu. No dia da minha apresentação, foram três palestrantes, duas do Brasil e uma de Portugal. A outra palestrante brasileira ficou surpresa pelo projeto ter remição de pena porque, no país, existe a remição de pena pela leitura, pelo trabalho e, só aqui, em João Pessoa, que existe a remição de pena pelo movimento, por um projeto de dança; ficaram encantados”, contou Germana.

Para o professor Mateus Finco, a participação no evento internacional foi de extrema relevância “para o aprimoramento acadêmico da discente, que representou a UFPB e promoveu um dos nossos principais fomentos, que é o da internacionalização através da divulgação de nossas atividades de ensino, extensão e pesquisa”, afirmou o docente.

O orientador destacou, também, que a troca de experiências em um evento internacional abre um espaço permanente de intercâmbio com pesquisadores de outros países, assim como novas propostas de colaboração internacional ou de pesquisas comparativas com outras realidades. E que por isso é importante estimular cada vez mais os discentes da UFPB para produções de comunicações científicas internacionais em outros idiomas e participações em eventos em outros países, visando expandir a rede de colaboração para projetos e pesquisas, além da grande experiência de colaborar e fazer parte da comunidade científica internacional.

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Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: Divulgação