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Maioria dos LGBQs sofre microagressões frequentemente, diz estudo da UFPB

Situações de discriminação sutil provocam estresse e diminuem autoestima do grupo social
publicado: 06/08/2020 19h52, última modificação: 06/08/2020 19h52
Violências verbais e não-verbais revelam desprezo, hostilidade, depreciação ou discriminação devido às práticas sexuais dos LGBQs . Foto: Pinterest/Reprodução

Violências verbais e não-verbais revelam desprezo, hostilidade, depreciação ou discriminação devido às práticas sexuais dos LGBQs . Foto: Pinterest/Reprodução

Pesquisadores do Grupo de Pesquisa em Comportamento Político da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) revelam que a maior parte da população LGBQ (Lésbicas, Gays, Bissexuais e Queers) sofre frequentemente microagressões devido à sexualidade.

Os pesquisadores da Pós-Graduação em Psicologia Social da UFPB, Allysson Dantas, Tátila Brito, Camilla Figueiredo e o professor Cicero Pereira analisaram respostas de 519 pessoas à Escala de Microagressões frente à Orientação Sexual (EMOS). 

“É um instrumento psicológico composto por 24 questões. Foi desenvolvido inicialmente por pesquisadores estadunidenses com o objetivo de avaliar a percepção de pessoas LGBQs (lésbicas, gays, bissexuais e queers) sobre microagressões vivenciadas em decorrência da orientação sexual”, explica Allysson Dantas. 

De acordo com o pesquisador da UFPB, a ferramenta EMOS tem sido utilizada em diversos lugares do mundo e busca apreender situações de discriminação “sutil” vivenciadas no cotidiano por pessoas lésbicas, gays, bissexuais e queers. 

“As microagressões correspondem a situações corriqueiras. Podem se manifestar verbalmente (insultos) ou não verbal (representação de pessoas LGBQs em jornais e revistas), ser intencionais ou inconscientes. Ocorrem automaticamente. São ações que revelam o desprezo, a hostilidade, a depreciação ou discriminação devido à orientação sexual”, conta Allysson. 

O pesquisador da UFPB argumenta que o questionário inclui o uso de termos em relação a posturas “heterossexista e homofóbica”, que são ações sobre comportamentos heteronormativos e de gênero. 

A escala distingue dados a respeito da desaprovação de vivências LGBTQs, a negação do heterossexismo como uma realidade e a suposição de que a homossexualidade corresponde a uma patologia ou desvio sexual. 

“Esses aspectos foram investigados através de dois estudos empíricos. Foram realizados entre junho e julho deste ano. Tivemos a participação de 519 brasileiros, autodeclarados gays, lésbicas, bissexuais ou queers, com faixa etária entre 18 e 65 anos, em sua maioria homens (56,5%)”, diz Allysson. 

Os participantes responderam a frequência com que tinham vivenciado microagressões relacionadas à orientação sexual. A variação da frequência foi observada em uma escala que variava de 0 (nunca ter vivenciado aquela situação) a 3 (ter vivenciado aquela situação muitas vezes). 

“No geral, a frequência média de microagressões vivenciadas pelos participantes foi de 2,42. Isso significa que a maior parte das 519 pessoas assumiu ter sofrido microagressões de forma frequente durante a sua vida”, destaca Allysson. 

Ao realizar as análises, os pesquisadores da UFPB verificaram ainda a associação entre as vivências de microagressões, o estresse relacionado à orientação sexual e a autoestima da população LGBQ brasileira. 

“Observou-se que quanto maior é a frequência com que experienciam microagressões, mais altos são os níveis de estresse. Ademais, quanto mais são expostos a situações de microagressões, mais baixos são os níveis de autoestima da população LGBQ”, enfatiza. 

Allysson Dantas cita que a equipe da UFPB verificou a adequação teórica da ferramenta EMOS para o uso em amostras brasileiras. Além de constatar a precisão do instrumento em avaliar microagressões frente à orientação sexual. 

“Os itens da EMOS retratam determinadas situações de microagressões, como ter ouvido ‘isto é tão gay’, quando alguém estava falando sobre algo negativo, ou ter recebido um conselho para agir de modo mais ‘masculino’ ou ‘feminino’. A escala EMOS é uma ferramenta válida, precisa e de fácil aplicação”, reforça Allysson. 

Os pesquisadores da UFPB acreditam que, com o desenvolvimento de estudos por meio da ferramenta EMOS, será possível avaliar e obter dados para denunciar e amenizar o impacto das microagressões na vida e na saúde da população LGBQ brasileira. 

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Reportagem: Jonas Lucas Vieira | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB