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Pesquisa da UFPB comprova: pessoas que fazem trabalho voluntário têm mais atitudes cidadãs

No entanto, o voluntariado pode ter motivações altruístas ou egoístas
publicado: 16/10/2020 23h29, última modificação: 16/10/2020 23h29
Segundo o estudo da federal paraibana, quanto mais altruísta, mais o voluntário é preocupado com questões coletivas. Na pesquisa, foram avaliadas as práticas de cidadania de 541 voluntários e de 347 não voluntários. Foto: Pixabay

Segundo o estudo da federal paraibana, quanto mais altruísta, mais o voluntário é preocupado com questões coletivas. Na pesquisa, foram avaliadas as práticas de cidadania de 541 voluntários e de 347 não voluntários. Foto: Pixabay

Um estudo realizado por pesquisadores do Programa de Pós-graduação em Administração da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) buscou compreender as relações entre a atividade voluntária e as práticas de cidadania. A pesquisa foi realizada por Patrícia Trindade Caldas, sob orientação dos professores Carlos Eduardo Cavalcante e Lizandra Serafim.

De acordo com a pesquisadora da UFPB, a tese a ser comprovada foi a de que o voluntariado fomenta cidadania, amparado nas motivações que guiam o comportamento dos seus praticantes: quanto mais altruísta for o voluntário, maior a preocupação com o coletivo e mais próximo das ações cidadãs ele estará.

“O estudo pode justificar o investimento em projetos voluntários, com a finalidade de gerar cidadania. Desde investimentos e financiamentos públicos a do segundo setor, até doadores que queiram usar sua força de mão de obra voluntária para resolver e melhorar questões coletivas, que é justamente o significado da cidadania”, explica Patrícia Trindade Caldas.

O trabalho científico desenvolveu uma escala inédita para medir a cidadania dos brasileiros em quatro esferas: civil, política, social e ambiental. A pesquisadora da UFPB explica que as práticas civis estão relacionadas à liberdade individual. As práticas políticas, à participação dos indivíduos no governo da sociedade. “O fator social foca na justiça social e as práticas ambientais se referem aos motivos que um indivíduo tem no dia-a-dia para cuidar do meio ambiente”.

Patrícia Trindade Caldas destaca que, apesar das bases da literatura fornecerem pressupostos teóricos que embasam a relação entre voluntariado e cidadania, não foi encontrada nenhuma escala de mensuração de cidadania que pudesse ser aplicada aos objetivos da pesquisa. 

A partir dessa escala, foi possível comparar as práticas de cidadania de 541 voluntários e 347 não voluntários. Assim, confirmou-se que os voluntários têm maior desempenho cidadão que os não voluntários em todas as esferas das práticas de cidadania.

O estudo também avaliou 366 voluntários que atuam na área religiosa, identificando que as motivações de justiça social e altruísmo são as principais forças explicativas para a ação cidadã deles. Contudo, as motivações egoístas (satisfação própria ou autodesenvolvimento) também apareceram como condutoras do comportamento cidadão nas práticas políticas e sociais.

“Quanto mais próximos às motivações altruístas, mais os voluntários estão preocupados com questões coletivas e, consequentemente, tendem a desenvolver práticas de cidadania”, afirma a pesquisadora.

Para a realização do estudo, foi escolhido, como base, o modelo de escala criado por um dos orientadores do trabalho, Carlos Eduardo Cavalcante. O professor da UFPB esclarece que os voluntários, diferentes de um trabalhador formal, são motivados a trabalhar em uma organização da sociedade civil ou em um projeto social por motivos diferentes. “No voluntariado, sabemos que não tem retorno financeiro. Então, questões financeiras não seriam uma motivação para eles trabalharem”.

Conforme o docente da federal paraibana, a iniciativa voluntária tem motivações altruístas, que são aquelas em que o indivíduo atua sem ter algum tipo de retorno, já as motivações egoístas consistem em iniciativas com o intuito de desenvolver uma habilidade ou satisfazer algum objetivo individual.

O trabalho dos pesquisadores da UFPB confirmou cientificamente essa relação, sendo os fatores motivacionais de altruísmo, justiça social e até mesmo os egoístas capazes de influenciar o desempenho de cidadania dos voluntários.

“Desse modo, trazemos evidências para justificar políticas de incentivo e financiamento ao terceiro setor e ao trabalho voluntário, advindas tanto do estado e da iniciativa privada, como também da sociedade civil, a fim de apoiar a gestão do voluntariado orientado para o alcance da cidadania nas comunidades”, defende Patrícia Trindade Caldas.

O voluntariado é uma atividade ou esforço não compulsório e não remunerado financeiramente,  dirigido por um indivíduo em relação a outra(s) pessoa(s) em situações fora de sua família ou família próxima, que se destina a ser benéfica para este outro ou para seu contexto.

A tese foi defendida em fevereiro deste ano. A coleta de dados ocorreu no ano passado, com abordagem quantitativa. “A pesquisa alcançou o objetivo pretendido de confirmar cientificamente a relação entre voluntariado e cidadania.”, finaliza a pesquisadora da UFPB.

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Reportagem: Carlos Germano | Edição: Pedro Paz
Ascom/UFPB