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UFPB realizou terceira edição do Simpósio de sustentabilidade na cadeia do cimento

publicado: 23/11/2023 15h35, última modificação: 23/11/2023 15h40
Evento serviu para participantes aprimorarem conhecimentos, trocarem experiências e conhecer oportunidades da engenharia forense

Foto: Elidiane Poquiviqui

Aconteceu nesta quarta-feira (22), no Espaço Cultural José Lins do Rego, a terceira edição do Simpósio de sustentabilidade na cadeia do cimento, que reuniu especialistas brasileiros, dentre cientistas, acadêmicos e profissionais do setor da engenharia, para discutir os avanços, complexidades e manifestações patológicas e integridade estrutural na construção civil.

O evento foi promovido pelo Laboratório de Tecnologia de Novos Materiais (Tecnomat) e do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Materiais (Nepem), da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Para o coordenador do Tecnomat e organizador do evento, professor Sandro Marden, o momento é essencial para difundir a importância do cimento Portland, não apenas considerando a economia da indústria de produção, mas com foco nos diversos avanços tecnológicos para um produto tão essencial nas diversas formas de construção, e considerando ainda o avanço social proporcionado pela construção civil.

“Em 2024 vamos realizar um evento em comemoração aos 200 anos do cimento Portland, estamos convidando grandes referências na área”, afirmou Marden.

A primeira palestra da manhã foi com Sidney Barbosa, perito da Polícia Federal que integrou as equipes que fizeram as perícias de engenharia do rompimento da barragem de Mariana (MG), em 2015, e da barragem de Brumadinho (MG) em 2019. O perito apresentou o trabalho desenvolvido pela Polícia Federal, em conjunto com a Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, de Portugal e a Escola Politécnica da Catalunha, da Espanha; que identificou as causas que levaram ao rompimento da barragem de Brumadinho e levou a uma conclusão que contraria a perícia de uma equipe de especialistas internacionais contratados pela empresa Vale.

O público pôde conhecer as diversas causas do rompimento da barragem, sendo a principal delas o processo de liquefação da barragem causado por uma perfuração realizada no dia do rompimento com vistas a realização de sondagens e instalação de equipamentos de monitoramento. Sidney explicou que um dos furos atingiu uma camada de baixa capacidade de suporte da barragem, levando ao rompimento da camada que se propagou por toda a estrutura.

Thiago Mendonça, aluno de doutorado do Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica da UFPB (PPGEM) e perito criminal federal há 17 anos, apresentou ao público os resultados parciais da pesquisa em andamento, voltada para metodologias com aplicação prática do perito de engenharia.

“A gente espera criar uma metodologia que possa aferir a qualidade de serviços executados em argamassas de revestimento de maneira não destrutiva, que o perito possa ver e com uma imagem possa aferir se o que está executado é compatível com o que o poder público pagou para o empreiteiro”, disse Thiago Mendonça.

Além de aprimorar conhecimentos e permitir troca de experiências, Thiago Mendonça afirmou que o evento foi uma grande oportunidade para apresentar aos demais alunos da UFPB a oportunidade de atuação na engenharia forense, como uma possibilidade de carreira.

A palestra do perito criminal federal Alysson Medeiros falou sobre o Programa de Cooperação Acadêmica em Segurança Pública e Ciências Forenses (PROCAD), uma forma de estimular pesquisas na área de ciências forenses nas universidades e que possibilita a cooperação entre Polícia Federal e UFPB via CAPES.

“Enquanto órgão de perícia, nós propomos as questões de engenharia legal e juntamente com a expertise dos professores da UFPB, com os laboratórios da Instituição, eles dão esse suporte formatando pesquisas que ajudam a responder essas questões e problemas científicos”, explicou Alysson. 

De acordo com o perito, a parceria com a UFPB já trouxe resultados como uma dissertação de mestrado, artigos científicos publicados e trabalhos apresentados no InterForensics, o maior evento de ciências forenses da América Latina. O desejo dos envolvidos é estimular ainda mais o interesse da comunidade acadêmica para no futuro se tornarem alunos e pesquisadores do programa.

A especialista Nicole Pagan Hasparyk, que é coordenadora e pesquisadora de diversos projetos da Eletrobras Furnas em temas relacionados à qualidade, durabilidade e desempenho de estruturas de concreto em empreendimentos, palestrou sobre os resultados de algumas pesquisas com foco em reações expansivas e durabilidade de concretos com vistas à sustentabilidade. Ela explica algumas das constatações realizadas nas pesquisas.

“O que a gente tem visto é que os materiais vão mudando, os cimentos vão ficando mais finos, e se a gente continuar adotando as mesmas práticas adotadas anteriormente, nós vamos ter efetivamente problemas, por exemplo, blocos de fundação de edificação que têm sido construídos com cimentos que desenvolvem a resistência muito rápido e podem trazer tensões de origem térmica e fissuras no concreto, bem como promover o desenvolvimento da etringita tardia ao longo do tempo no concreto já no estado endurecido, um processo expansivo que leva à fissuração e à perda da integridade estrutural”, explicou Nicole.

A pesquisadora pontuou a necessidade de realização de medidas preventivas para diminuir a possibilidade de fenômenos patológicos nas estruturas de concreto, e que já há conhecimento para mitigar esses riscos. Chamou ainda a atenção para a utilização das práticas de engenharia apropriadas também na questão da sustentabilidade. 

“Hoje em dia não temos que focar em resistência e em durabilidade, por que esse conhecimento já se tem. Temos que focar nas questões ambientais, estar atentos às mudanças climáticas e buscar a sustentabilidade das construções com vistas a descarbonização, inclusive”.

Também palestraram no III Simpósio de sustentabilidade na cadeia do cimento o Diretor do Centro de Informática (CI), professor Lucídio Cabral, que apresentou resultados preliminares de pesquisas envolvendo a ciência de dados em ferramentas de automatização para a decisão pericial; Tibério Andrade, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que falou sobre o desastre do desabamento do edifício Areia Branca, ocorrido em 2014 em Pernambuco; e Sandro Marden, que tratou dos conhecimentos fundamentais de um dos principais mecanismos deletérios mundiais que têm ocorrido em várias obras na região e no país.

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Reportagem: Elidiane Poquiviqui
Edição: Aline Lins
Foto: Elidiane Poquiviqui