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Projeto da UFPB destaca a arte das mulheres na cultura popular

publicado: 13/07/2021 17h04, última modificação: 13/07/2021 17h09

“Colocar as mulheres em cena significa apresentar à sociedade a quantidade e  qualidade da produção cultural de mestras da cultura popular, evidenciando e incentivando o empoderamento feminino nessa área”. Essa é a perspectiva da idealizadora do projeto Mulheres em Cena, professora Luciana Deplagne.

Em seus estudos e pesquisas sobre as relações de gênero e autoria feminina na história, Luciana identificou a necessidade de visibilizar a mulher artista. Foi assim, que em 2019, ao tornar-se coordenadora do Núcleo de Pesquisa e Documentação da Cultura Popular (NUPPO), ligado à Proex, criou o projeto de extensão. “Percebi pouca representatividade feminina no NUPPO, nas xilogravuras, cordéis e bibliografias sobre a participação de mulheres na cultura popular. Então, me veio a ideia de desenvolver um projeto de extensão ligado ao Núcleo para divulgar a produção artística de mestras da cultura popular”, conta.

Com a pandemia, o projeto precisou se adaptar. Assim, foi criado um perfil no instagram para divulgação das ações e das mulheres artistas e seus trabalhos nas mais diversas manifestações da cultura popular. Além disso, o lançamento de um livro está previsto para outubro deste ano. 

Sob o título ‘Vozes Femininas da Cultura Popular’, a coletânea é fruto  do minicurso ‘Cultura popular e autoria feminina' promovido pelo projeto em 2020 e que contou com a participação de pesquisadoras e artistas da cultura popular. Dessas participantes, oito pesquisadoras e  oito artistas já confirmaram participação, entre elas, quatro cordelistas. “A ideia é que sirva de material de divulgação em escolas, em cursos da graduação e da pós-graduação como incentivo para novas pesquisas sobre cultura popular, considerando essa produção que ficou à margem da historiografia, das antologias, do conhecimento de grande parte da população”, explica a professora Luciana.

"Não passei por uma situação de machismo específica dentro do universo do cordel, mas vivo isso todos os dias na minha vida e aproveito e já respondo com uma poesia braba". Julia Juazeira, cordelista.

Para ela, além da divulgação dessa arte popular para estudantes de diversos níveis, o livro cumpre também uma função formadora. “Servirá também de incentivo para novas amantes da cultura popular, ao sentir que a produção de autoria feminina está sendo respeitada. Acredito ser um dos caminhos possíveis para se conseguir uma igualdade de gênero neste campo da Cultura popular”, avalia.

Elas Em Cena

Produzindo literatura de cordel desde 2017, a cordelista sergipana Isis da Penha foi convidada para participar das ações do projeto em maio deste ano. Para ela, a importância da coletividade vivenciada no projeto e a oportunidade neste espaço dimensiona a existência das mulheres produtoras de cultura. “Enquanto mulher e cordelista fico feliz de ter um espaço dentro de uma universidade que se propõe a tal trabalho. Entendo que a abertura desses espaços é fruto da luta das mulheres”, elucida.

Em todos esses anos produzindo e vivenciando a paixão pela literatura de cordel, Isis confessa como precisou enfrentar o machismo. Atualmente, é mediadora do Estante Feminista, grupo de estudos de cordel vinculado ao  Movimento Nacional de Mulheres Cordelistas Unidas em Combate ao Machismo, que reúne mulheres de diferentes lugares e atividades relacionadas ao cordel. 

“Toda mulher cordelista já passou por algum desafio referente ao machismo. O próprio fato de a referência feminina aparecer em larga escala só recentemente escancara um grande desafio que foi vivido por todas nós e ainda é vivido por algumas mulheres. Minha  atuação está intimamente ligada à descolonização de saberes, em pensar o Brasil e todos os desafios estruturais que enfrentamos desde a colonização, pois o machismo é parte disso”, reivindica.

Assim como Isis da Penha, a cordelista, atriz e diretora de arte Júlia França, conhecida como Júlia Juazeira, tem atuado no projeto. Escritora de cordéis desde 2016, publicou de forma independente um livro com 15 cordéis em 2018 e desde então tem participado de exposições de arte contemporânea com os cordéis que escreve. Recentemente essa mesclagem realizada pela artista entre a literatura de cordel e outras produções artísticas desencadearam na feitura de seis cordéis em formato de obras de artes. 

Júlia que é uma das artistas que contribuirá para a escrita do livro, menciona o quanto considera importante ter a oportunidade de compartilhar produções com outras mulheres. “Participei de um dos encontros, falando um pouquinho do meu trabalho e recitando cordéis autorais. Foi um encontro maravilhoso, estar e aprender com tantas mulheres que carregam interesses como os meus, ressalta.

Ela também expõe seu posicionamento diante da tentativa de apagamento de mulheres artistas. “Precisamos sempre reformar o caminho que foi pavimentado por tantas outras que vieram antes de nós para que possamos continuar vindo.” Para Júlia, a expressão artística feminina pela cultura popular é o maior ato de resistência contra o machismo e para ele a melhor resposta “é com uma poesia braba”.

 Extensionista: Crislaine Honório | Edição: Lis Lemos