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Projeto LabMUA incentiva ativismo feminista na Universidade

publicado: 07/07/2021 11h39, última modificação: 07/07/2021 11h39

 A sociedade brasileira se sustenta sob construções sociais que limitam a ação política das mulheres e restringem sua capacidade de promover mudanças nas estruturas patriarcais do país. Para Nathalia Williany, discente do curso de Relações Internacionais, há uma necessidade de que as mulheres estejam no centro dos debates. “É muito importante estimular o protagonismo feminino porque nós ainda estamos numa sociedade que poda as mulheres, que invisibiliza os seus potenciais, que as reprime e as violenta”, afirma. 

Assim como outras esferas sociais, a Universidade é um dos espaços que reproduzem esse tipo de violação de gênero. “Mesmo sendo um ambiente no qual deveria prevalecer o pensamento crítico, as universidades terminam por reproduzir as relações de desigualdade existentes no meio social e superar isso requer muito debate e mobilização interna”, comenta Mojana Vargas, docente do Departamento de Relações Internacionais da UFPB. 

Foi da necessidade de criar um espaço exclusivo para mulheres, no qual elas pudessem discutir abertamente suas visões sobre as relações de gênero na UFPB e na sociedade paraibano e brasileiro que, em 2019, a convite da professora Mojana Vargas, Nathalia e mais cinco integrantes redigiram o projeto de extensão da Coletiva EmpodeRI.  Depois de se tornar projeto de extensão, o espaço se transformou em um meio de articulação política para a promoção da igualdade de gênero dentro e fora do ambiente universitário. “A Coletiva EmpodeRI se tornou uma importante referência do ativismo feminista no âmbito da universidade tanto em termos de atuação política, quanto em termos de produção acadêmica”, afirma a coordenadora do projeto. A estudante participa da Coletiva desde 2017, quando a iniciativa ainda era autônoma e não vinculada à Universidade. 

Mulheres Universitárias em Ativismo 

Depois de dois anos atuando como projeto de extensão, Nathalia conta que as integrantes entraram em contato com outros conceitos e realidades que causaram inquietação em torno do termo empoderar. “A gente se questionou muito sobre o que era empoderamento e se o termo não adquiriu um caráter exclusivista”, fala. 

O receio das participantes era de estar se colocando em uma posição de superioridade em relação a outras mulheres, principalmente quando muitas delas nem conhecem a palavra “empoderamento”. Além disso, havia uma necessidade de aumentar o contato com a sociedade e produzir algo para ela. Sendo assim, em abril deste ano, a Coletiva se transformou no Laboratório Social de Mulheres Universitárias em Ativismo (LabMUA), um laboratório social que investe em uma abordagem multidisciplinar na construção da luta pela equidade de gênero. O objetivo central do projeto é oferecer formação, capacitação e meios de atuação para as mulheres em ambientes e atividades de caráter sócio-político, cultural e artístico, promovendo protagonismo feminino. 

Se não há uma política feminina sendo articulada nesse espaço, a política da desigualdade vai imperar. Então, a gente precisa se contrapor a ela e criar novas narrativas, porque a todo momento há disputas narrativas que marginaliza as mulheres”, Nathalia Williany, integrante do LabMUA.

Atualmente, o projeto conta com 18 participantes. Uma delas é Maria Luisa Albuquerque, estudante do curso de Relações Internacionais, que conheceu a iniciativa em 2019, quando entrou no curso, mas passou a acompanhar a atuação da extensão em 2020. Hoje, ela é bolsista do projeto e conta que, além da contribuição acadêmica, o projeto colabora para sua formação política. "O estudo é muito importante, mas discutir como melhorar efetivamente a vida de mulheres e promover a igualdade em diversos meios, é mais relevante ainda. Às vezes esquecemos disso dentro da academia, porque ficamos presas a discussões mais teóricas”, avalia.  

Para a bolsista, o projeto também contribui para ampliar suas referências acadêmicas, frequentemente restritas pelo androcentrismo. “Muitas vezes as teorias que estudamos e as visões de mundo a que temos acesso são limitadas por serem óticas estritamente masculinas, e nem percebemos por ser algo naturalizado dentro da academia”, reflete a jovem que tem a EmpodeRI como sua primeira experiência dentro de um grupo ou coletiva feminista. 

Obstáculos 

No entanto, as barreiras para o ativismo feminista dentro da Universidade ainda existem. Nathalia acredita que debater questões estruturais incomoda quem está acostumado a se beneficiar com o modo com que as coisas estão postas, no caso, a marginalização das mulheres. “Tudo que incomoda faz com que as pessoas ajam de maneira a reprimir. Essa reação muitas vezes é violenta, até mesmo coloca as mulheres como exageradas, loucas, mentirosas e violentas”, reflete. 

Para Nathália, isso só aumenta a necessidade da atuação do ativismo dentro da Universidade. A estudante enfatiza que o objetivo da política feminina é trazer destaque às mulheres, visibilizar suas falas, suas vivências e necessidades. “Sem atuação política, não conseguimos falar por nós mesmas e isso se dá em órgãos de decisão institucional, projetos acadêmicos ou até mesmo dentro da sala de aula. A todo momento as pessoas debatem, decidem e criam consensos. Esses consensos devem considerar os nossos direitos e respeitar as nossas vivências”, destaca. 

Pensando nisso, o projeto desenvolve o grupo de estudos e diálogos que incentivam a necessidade de conhecer abordagens teóricas feministas que analisam e versam sobre a condição da mulher no meio social, profissional e universitário. A cada trimestre, as participantes escolhem um tema para ser estudado e selecionam um material (artigo, filme, livro ou documentário)  para embasar o debate entre elas. Este trimestre, elas estão lendo o livro “Feminismo para os 99%: Um manifesto” de Cinzia Arruzza, Tithi Bhattacharya e Nancy Fraser 

Além das reuniões semanais, há também a essencial frente política, que encoraja atos e eventos culturais, filosóficos e sócio-políticos como, por exemplo, a mesa de debate “Políticas Públicas para Mulheres” que ocorreu na Universidade, em 2019, e contou com a participação de mulheres parlamentares como Robeyoncé Lima, Co-deputada estadual de Pernambuco, e a deputada estadual da Paraíba Estela Bezerra.  

Para se tornar integrante do LabMua e participar das ações propostas pelo projeto, as mulheres podem entrar em contato com as participantes do grupo pelo gmail (projetolabmua@gmail.com). 

Extensionista: Aléssia Guedes | Edição: Lis Lemos